Um dos homens mais ricos nos Campos Gerais, durante o Segundo Império, foi Manoel Inácio do Canto e Silva. Em 1872 afim de que cada um de seus filhos passa cuidar de seu futuro e aumentar seu patrimônio, fez partilha dos bens em vida a quatro filhos, num total de 585:224$775. Bonifácio José Batista, casado com a herdeira Ana Luiza Novaes do Canto, recebeu a fazenda "Agudos"; o filho Jordão do Canto e Silva, recebeu a fazenda "Morungava"; o filho José Felix Novaes do Canto recebeu a fazenda "Taquara" e o sitio "Curralinho" (este sitio tinha mais de mil alqueires); o Dr. Laurindo Abelardo de Brito, a fazenda Monte Alegre. Além das fazendas foram partilhados 70 escravos, 3253 cabeças de gado vacum e três casas no Largo da Matriz.
Manoel Inácio nasceu em 30 de maio de 18,5, na então vila do Príncipe (Lapa), filho declarado do capitão-mor Manoel José do Canto e de Ana Luiza da Silva. Casou-se em 3 de janeiro de 1832, com Cândida Joaquina Novaes, filha do português Manoel José Novaes e da paulista Águeda Joaquina de Araújo. Desse consórcio resultaram os filhos Ana Luiza Novaes do Canto e Silva, casada com Bonifácio Jose Batista; José Felix Novaes do Canto e Silva, Jordão Novaes do Canto e Silva; Águeda Joaquina do Canto e Silva, casada com Laurindo Abelardo de Brito (Conselheiro Laurindo) e Onistarda do Canto e Silva (Falecida em criança). Foi comandante da Guarda Nacional, Diretor Geral do Índios, deputado provincial, portador das comendas da Ordem de Cristo e da Ordem da Rosa. Concorreu em 1877, nas lista tríplice com o Visconde de Nacar e o Conselheiro Manoel Francisco Correia, sendo este (primo do padre Dâmaso) o escolhido para o Senado do Império.
Com o falecimento de Cândida Joaquina Novaes (23-10-1864) Manoel Inácio se amigou com a viúva Carolina Maria Domingues, com a qual teve uma filha, batizada com o nome de Mecia, reconhecida por escritura pública e confirmado reconhecimento por testamento para poder concorrer com os demais filhos à sucessão dos bens. Esta, alias foi a filha mais bem aquinhosa no testamento, porque além de legítima que por direito lhe cabia, recebeu a fazenda denominada "Maracanã", com todas as benfeitorias e gado que nela existiam ao tempo de morte do testador. Mecia ficou ainda com a casa do Largo da Matriz que fora do Conselheiro Laurindo, com todos os trastes, mobílias, "nomeadamente um par de serpentinas, dois pares de castiçais que acompanham (tudo de prata), uma bandeja ou taboleiro grande de prata que tem as iniciais A. L. S. (Ana Luiza da Silva, mãe do comendador) e um estojo ou faqueiro também de prata com as ditas iniciais". Recebeu mais as escravas Raquel, Rosália e Caetana, com seus filhos Adão, Bento e Clara.
Mecia não era bem vista pelos filhos de Manoel Inácio, porque no referido testamento há a advertência: "Se, o que não é de esperar, qualquer dos meus herdeiros contestar em Juízo o direito da dita minha filha à sucessão dos meus bens, é minha vontade deixar a ela como deixo-lhe, toda a minha terça, em cujo preenchimento entrão de preferencia a fazenda Maracanã, com todos os seus gados e mais legados que ficaram mencionados".
Como todo senhor de escravos na região, o comendador era temente a Deus, obedecendo seu testamento a mesmíssima ordem de disposição que o conservadorismo jurídico manteve desde o tempo das Ordenações Filipinas. Depois da Identificação vinha a recomendação para garantir-se post-mortem: "Mando que se diga uma capela de missas (expressão que a maioria dos católicos de hoje não sabe o que vem a ser) por minha alma e outra por sua morte os escravos Remígio, Izidro e sua mulher Catarina, Henrique e seu filho Florêncio, Ana, mulher de Manoelzinho.
O testamento de Manoel Inácio é de 4 de outubro de 1883 e foi redigido pelo Dr. Francisco Xavier da Silva.
No mesmo dia do falecimento de Manoel Inácio (21 de novembro de 1885), Indalécio Rodrigues de Macedo, marido de Mecia, compareceu perante o Juiz Dr. Antônio Bley e disse ser portador do testamento cerrado de seu sogro.
Há um a fotografia em que Manoel Inácio aparece com acentuados traços indiáticos, daí por que David Carneiro em seu romance "Drama da Fazenda Fortaleza" faz surgir a figura de um caingangue como amante de Ana Luiza, a filha do sargento-mór José Felix da Silva. Por outro lado, Saint-Hilaire (Viagem às Províncias de São Paulo e Santa Catarina) faz referencia à vida atribulada do sargento-mór, cuja mulher Onistarda Maria do Rosário havia tramado sua morte em cumplicidade com a filha Ana Luiza, esta mãe de Manoel Inácio.
Há, no entanto, circunstancias pouco esclarecidas na vida desses potentados dos Campos Gerais. José Felix da Silva regalou de presentes caros a filha de Ana Luiza. O taboleiro de para com sua iniciais, devia ter um valor extraordinário. O falecido Dario Macedo dizia que eram necessários quatro homens, segurando nas alças, para manobrar esse taboleiro. Tanto essa preciosidade como faqueiro passaram para o patrimônio da família de Indalécio Rodrigues de Macedo, mercê do testamento e desapareceram. Seriam peças de valor inestimável para nosso museu que se foram daqui para maior empobrecimento de nossa história.
Causos de Nossa Gente - Oney Barbos Borba
Comentários
Postar um comentário