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Tropeiros e Índios

Afirmar-se que os paranaenses eram os me hores tropeiros do Brasil Meridional, na época do povoamento, é repetir uma verdade historica. Nos projetos do Morgado de Mateus, quando administrava a Capitania de Sao Paulo, havia um para assegurar as comunicações com as partes centrais do Brasil. Segundo esse plano, “os povoadores seriam recrutados de preferência entre curitibanos, por serem estes, de todos os paulistas, os mais afeitos ao uso do cavalo € à vida campestre”. “Monções”, de Sérgio Buarque de Holanda, p. 87 — 2.2 edição). 

Os campos gerais do Paraná, os campos da bacia do Prata, compreendendo estes o Territorio das Missões, o Continente de São Pedro, a Província Cispiatina e os pampas argentinos, foram desde a descoberta, povoados com animais originários do Velho Continente. Suas excelentes pastagens condicionaram o aumento rápido dos rebanhos, muito além da necessidade das incipientes povoações. Tornaram-se desde logo, mercadorias vendáveis para outras regiões não propícias à criação. Os mercadores de então — os tropeiros — iam adquirir o gado e formavam as tropas para serem conduzidas por terra para as feiras. Estas feiras se realisavam nas povoações. A mais importante no eixo Norte-Sul era a feira de Sorocaba, na Capitania de Sao Paulo
Nas povoações por onde passavam as tropas havia sempre um logradouro destinado ao pouso e à feira era a ronda. A ronda da Vila Nova de Castro ho e vila Rio Branco — era fechada e se comunicava cm 

o centro por uma porteira mandada fazer pelo Capitao-mor José Carneiro Lobo, em combinação «um o Co. ronel Antonio Joaquim da Costa Gaviao, Comandante militar da vila de Curitiba, para evitar que as tropas perturbassem a vida dos moradores da povoação. 

Antes da criaçao da Província do Paraná, todos os habitantes do primeiro, segundo e terceiro plianaltos da 64 Comarca da Capitania e depois Província de Sao Paulo, eram conhecidos como curitibanos, porque as vilas, com exceção das do litoral, estavam juridicamente subordinadas à vila de Curitiba. 

Homem lutador e capaz, o paranaense não parava em casa. Vivia percorrendo os caminhos do Bul, atingindo até Buenos Aires, na aquisição de tropas para as feiras de Sorocaba. Saint-Hilaire observou em sua Obra que nas diversas fazendas em que pousou durante suas pesquisas sobre a flora, só encontrava mulheres, porque os homens estavam sempre viajando. Havia tropeiro que viajava com a família completa. O Alferes Rodrigo Felix Martins, morador no Páteo do Pelourinho, numa de suas viagens para o Sul, em 1816, levou a família e lá, sua mulher Luiza Maria de Quadros veio a falecer. Em viagem para o Sul morreram José Rodrigues Gulart, Francisco Ricardo de Oliveira, Francisco do Rosário e muitos outros, entre os anos de 1811 e 1821 .

Quando os povoadores procuravam penetrar no sertao encontravam o selvícola que opunha resistência. O estabelecimento de Jusé Felix da Biiva na faxenda Fortalesa custou muitas vidas de caingangues € de brancos. No lugar hoje conhecido por Harmonia, na fazenda Monte Alegre, houve batalha sangrenta entre os homens do Capitao-de-Mato Antonio Machado Ribeiro e os caingangues. Até bem pouco tempo o nome do lugar era Mortandade. 

Depois que os paulistas escravizadores de índios Antônio Raposo Tavares e Manoel Preto, no primeiro quartel do século XVII, destruíram as várias reduçoes existentes no território paranaense, o selvícola perdeu a confiança no homem branco e lhe fez guerra. Onde podia, assaltava, roubava, queimava e matava. 

D. João VI fugiu de Portugal para não cair nas mãos de Napoleão Bonaparte, já que não tinha nem força, nem gênio para enfrentar o corso. Mas, chegando aqui, declarou guerra aos índios do Brasil Meridional em carta de 5 de novembro de 1808, dirigida a Antonio José de França e Horta, Governador e Capitao-general da Capitania de São Paulo. Justificava-se ele que os campos gerais de Curitiba e os de Guarapuava, assim como todos os terrenos das cabeceiras do rio Uruguai estavam infestados de índios que matavam cruelmente os fazendeiros. Citava ataques de índios nas vizinhanças do registro de Lages, estando convencido “que não há meio algum de se civilizar povos bárbaros, sou servido por estes e outros justos motivos que ora fazem suspender os efeitos de humanidade que com eles tinha, mandado praticar, ordenar-vos em primeiro lugar que logo desde o momento em que receberdes esta minha carta real, deveis considerar como principiada a guerra contra estes bárbaros. Todo miliciano ou morador que segurar índio poderá aprisloná-lo por quinze anos”.
Esta declaração de guerra foi publicada em todas as vilas da Capitania. Era carta branca de extermínio dos índios para facilitar aos portugueses a exploração da terra. A história oficial ensinada nas escolas procura suavizar o domínio colonial português. Nao conta, por exemplo, que o célebre “caçador de esmeralda” Fernão Dias Paes Leme, fracassando na serra de Apucarana, preou cerca de cinco mil índios e os levou para São Paulo (2%), 

A colonização entre nós, como nos demais países da América se fez com apoio na violência. As relaçoes entre colonizadores, governantes e governados, refletiam as asperesas da época. Da violência passavam com freqiência à brutalidade. Muitos povoadores se rebelavam contra certas medidas ou ordens superiores. Em 1801, entre nós, Joaquim José Pereira Cardinal e o Furriel de Milícias João Pires Machado acusaram perante a Junta Governativa de São Paulo os desmandos do Capitão-mor José Carneiro Lobo, que, abusando do posto que exercia punha gente no tronco, quando não a ferros. Déspota, usurpava as atribuições dos juíses ordinários e presidente do Conselho, conduzindo-se como um tiranete no comando das Ordenanças.
 

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